sexta-feira, 20 de julho de 2012

MIXREPORTAGEM: Bahamas longe das lentes turísticas

Bandeiras bahamenses na rua principal, Shirley Street, que liga o Este a Oeste de Nassau 

     Após 325 anos de regras britânicas, em 10 de Julho de 1973 finalmente as ilhas Bahamas passaram a ser uma nação soberana, com total independência. Hoje, quase 40 anos depois da conquista, entre tantos aspectos precários no país, os mais urgentes são segurança, educação e administração. A falta de regras nas ilhas - principalmente na turística capital Nassau - é o que mais afasta os habitantes de desenvolvimento. O retrocesso de ar colonial no país já é notório pra quem chega no centro da cidade e flagra, além dos buracos nas ruas, carroças intensificando o trânsito; já pra quem entra um pouco mais na ilha, a falta de iluminação, policiamento e sinais de trânsito só ratificam a sensação da grande bagunça de estar num paraíso abandonado.

Apesar da cadente taxa de natalidade, há muitas crianças na ilha
     Paraíso porque é assim que os turistas vêem as Bahamas, e da mesma forma o país é "vendido". O mar parado e as águas cristalinas de suas praias são realmente fantásticos, mas politica e socialmente o país está chegando numa situação crítica de dar pena. De dez anos pra cá muitas empresas e bancos deixaram de investir no país, enfraquecendo assim sua economia, cujo turismo representa a atividade mais importante. Esta, por sinal, vem sinalizando queda uma vez que os americanos eram os clientes mais frequentes e, por conta de dificuldades financeiras, tem se tornado eventuais.

     Por falar em consumo, Nassau está bem perto de ser uma província, onde parece abrir um restaurante e fechar uns três por ano. A falta de opção na cidade é tão incrível que ela parece estar localizada numa era remota. Não se acham copos, nem talheres, nem móveis, nada, ao não ser que se pague quatro vezes mais (quando se encontra). Além disso, mesmo estando ao lado dos EUA o residente daqui só tem direito à isenção do imposto de compras no valor de US$ 300,00, duas vezes ao ano. Ou seja, caso o bahamense (cujo salário em uma loja comercial por exemplo varia em torno de US$700,00) tenha dinheiro para viajar, o mesmo deve economizar para duas viagens caso queira usar toda a isenção. No aeroporto, de forma primitiva, a imigração realiza o processo de "vasculhamento" (não há outras palavras para o que eles fazem com as malas), exigindo a entrega de todos recibos, que eventualmente poderiam ser necessários pra outro fim. Não tem sentido.

Shoppings são em geral vazios e desertos, muitas lojas fechadas
     Mas isso é só um detalhe perto da violência, questão que mais assusta bahamenses e expatriados aqui residentes. Desde um ano, tem sido mais frequentes assaltos a mão-armada em lojas de conveniência, postos de gasolina e até mesmo nos grandes navios que aqui chegam repletos de turistas. Segundo o jornal Nassau Guardian, foram registrados 127 homicídios em 2011 e 94 em 2010 (incluindo dois turistas americanos). De acordo com o relatório das Nações Unidas sobre crime e violência de 2007, as Bahamas tem o mais alto índice de estupros por habitante reportados no mundo; esse número aumentou de 2010 para o ano passado em 37%, e parece atualmente não estar diminuindo. De forma curiosa, um canal local de Tv (o mesmo que transmite anúncios de mortes e aniversários) adverte com dicas de como não criar criminosos; uma delas é lembrar de como é ruim o ambiente de cadeia e a liberdade que se perde com ela. Construtiva, mas remota tal comunicação. 

     A falta de regras é o pior no arquipélago. Muitos bahamenses até falam que nem sempre se pode contar com a polícia e que os números de emergência funcionam esporadicamente. A Polícia é negligente e só aparece onde tem turista. No "paraíso esquecido", o serviço mais eficiente e rápido é o reboque de carro; basta deixar alguns minutos o automóvel no centro ou em lugar proibido para ter que pagar um multa de US$80,00 e passar o dia correndo atrás de resgatá-lo. Principalmente em cidades turísticas, pegar um taxi é algo comum, mas no caso das Bahamas, se for após as 22h já fica quase impossível. Também não existe "disque-Taxi". Incêndio é que faz parte da rotina; sempre se vê num canto da ilha uma fumaça que permanece o dia todo no céu, indicando que algum estabelecimento ou casa pegou fogo. Dizem que na maioria das vezes é proposital. Quem vai saber?

O lixo invade terrenos, casas e até carros
     No meio da ilha as ruas são terríveis. À noite há postes que, é claro, não funcionam ou são desligados aos domingos e feriados; é um "salve-se quem puder" danado. Com um precário transporte público, regras no trânsito não existem, possibilidade de ir andando, muito menos. Durante o dia, longe dos pontos turísticos, é bem nítida a desordem: lixo pra todo lado, bêbados andando, jovens desocupados vivendo num desleixo sem limites, cujo resultado mais óbvio é a droga e a criminalidade. Nas Bahamas não se recicla lixo nem latas nem vidros, não há preferência para idosos ou gestantes. Feiras de frutas, ninguém sabe o que é. Água de coco, suco de frutas frescas, nem adianta pedir em restaurante. Provavelmente isso dá muito trabalho. Aqui se plantando, talvez tudo desse. Mas infelizmente o paraíso "independente" está, assim como suas águas, muito parado.

Mackey Street, depois de uma chuva, quase alagada  


Nenhum comentário:

Postar um comentário