domingo, 22 de julho de 2012

FEEDBACKCULTI: Muito obrigada e desculpem meus leitores, mas meu nome não é "Alice"

    É impressionante como praticamente em todos os sentidos, a verdade dói, incomoda. E isso acontece somente porque vivemos num mundo de "mentiras" ou simplesmente porque temos o hábito de não julgar a nós mesmos e, no fim, estarmos tão vulneráveis e sensíveis às ofensas que causa a dita cuja. A regra tem a mesma idade do ser humano, mas os sistemas, governos, poderes e autoridades em geral a seguem com muito rigor, infelizmente. Muito obrigada por todos os emails, visitas e comentários (desculpem as falhas técnicas no blog, para todos que não conseguiram postar). Recebi um retorno muito rico e polêmico (por isso, bom) sobre a última reportagem aqui publicada "Bahamas longe das lentes turísticas", que bateu o recorde de leituras, por isso me senti na obrigação de desabafar com esse feedback.
    Justamente nove anos atrás, quando era estudante de Jornalismo, criei com amigas um website (hoje quase em desuso, mas ainda acessível) sobre Jornalistas Assassinados na época da ditadura militar no Brasil. O tema, na época, já chamou minha atenção pois é muito realista e sempre atual. Deus me livre dessa realidade estar próxima de mim ou de meus grandes amigos jornalistas, mas hoje me deparei pensando seriamente nessa questão. Uma das minhas irmãs me ligou de Brasília, meio assustada com o texto e super preocupada se não era perigoso postar algo assim. Afinal, eu mesma fiz questão de ressaltar de forma contundente como faltam regras nesse país. Melhor não brincar com isso.
     Fiquei super chateada, pois tinha tido o maior trabalho para traduzi-la para inglês e só estava esperando uma "passada de olho" de edição de uma amiga americana para finalmente publicar, feliz da vida.  Na verdade nem tinha pensado muito além, que aqui não tem regra, que ando para cima e para baixo quase sempre sozinha, etc. Que um bahamense poderia eventualmente ler (pois mandei para vários conhecidos), se ofender e a história não parar por aí. Depois da paranóia me questionei, mas onde entra então minha liberdade? E a questão da verdade, como lidar com isso? É proibido proibir, não?! Já dizia a escritora Hannah Arendt: "não há esperança de sobrevivência humana sem homens dispostos a dizer o que acontece".
      É triste saber que a tal Liberdade de Imprensa, proclamada em 3 de maio de 1991 na Namíbia, parece estar caçada pelos ofendidos no quatro cantos do mundo onde há corrupção. Eu, como jornalista, não só tenho direito como o dever de falar a verdade, de mostrar o que acontece sem parcialidades. Caso alguém tem interpretado mal a reportagem (principalmente um bahamense que eventualmente a tenha conseguido entender), talvez tenha usado uma crítica forte sim, mas de cunho construtivo e realista. Não quero mudar o mundo nem meu objetivo é "detonar" ou depreciar esse país que adoro viver. Aqui poderia construir minha família, não ando carregada de preconceitos, respeito todos e sou por isso muito respeitada. Além do mais, sou da opinião que o estrangeiro que só fala mal de onde vive e não sabe se integrar, deve voltar ao país de origem. Parto do princípio que se estou morando fora do meu, alguma coisa aqui também vim buscar, não?!
      Graças a Deus, moro numa parte das Bahamas onde as lentes turísticas conseguem alcançar. Mas realmente tenho pena daqueles cidadãos que vivem entregues ao descaso dos governos, das ruas que poderiam ser muito mais cuidadas, da paisagem linda que poderia ser bem mais frutífera e do sistema injusto cujo lucro do turismo é incapaz de melhorar a vida de quem nasceu aqui e merece também sorrir nesse país bonito. Meu coração dói quando vejo pessoas que não tem com o que contar, e que a sua educação só lhe instrui à subserviência, a repetir "Sim, senhor", ao invés de estimular sua inteligência, sua criatividade. Melhor mesmo não brincar com a falta de regras, mas prometo não só escrever as queridas matérias de viagem. Pra censura, sempre bom um olho bem aberto e o outro fechado, mas não estudei nem sou fui educada para ser alguém que mente ou se incomoda com a verdade. E uma das certezas que tenho é que estou longe de ser "Alice, no país das maravilhas". Obrigada a todos pela confiança e compreensão.

PS. Para fechar o tema, dedico um trecho de poema lindo da Cecília Meirelles (abaixo). Beijo, beijo, tchau.

"Liberdade: palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda. E a vizinhança não dorme, murmura, imagina, inventa, não fica bandeira escrita, mas fica escrita a sentença (...)"


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