quarta-feira, 1 de agosto de 2012

MIXOPINIÃO

Dia nacional, festa suíça, o resto multicultural

 

    Um dos poucos e apreciados feriados do calendário suíço, o primeiro de Agosto é um dia de festa que exala patriotismo no país. Geralmente comemorado em clima de verão, o dia nacional da Suíça é privilegiado com as bandeirinhas vermelhas e brancas que saem dos armários para tomar lugar pelas ruas graças à “coragem” do povo de expressar o amor pela sua terra. A oportunidade transforma a timidez do suíço, que não sabe cantar seu hino mas sai do stress do dia-a-dia e se alegra em celebrar não só seus chocolates, relógios e queijos, mas também sua valiosa qualidade de vida, invejável estabilidade e sistema de regras que deixa o país tão próximo à perfeição. Em meio ao multicultural e à neutralidade imperfeita, o país dos Alpes tenta preservar suas virtudes e se encontrar dentro de sua vasta imigração.

     Muita gente diz que o suíço é um povo chato, conservador, exigente, mas quem já viveu no país da famosa Heidi sabe que isso é uma meia verdade. Sim, eles são tradicionais, formais e seguem incrivelmente as regras à risca. Por outro lado, estão acostumados a viver num país onde há diferentes culturas, por isso sabem ou tem aprendido muito bem a compartilhar suas conquistas com os estrangeiros. Uma das principais características do original suíço, a modéstia é justamente o que lhe atribui simplicidade e o afasta de vaidade e orgulho, comuns a países patriotas. O helvético geralmente é uma pessoa neutra, que fala baixinho e tem vergonha de ser inconveniente, de incomodar. A um povo assim, pode-se simular um encontro cultural de refugiados de Guerra, cidadãos que buscam asilo e outros sem educação (ou mesmo diplomas) - entre muitos outros - que lá encontram qualidade de vida e ficam, embora reclamem de tempo ruim, racismo ou exclusão no país.


      Na nação que sedia organizações internacionais como a Cruz Vermelha e Organização Mundial do Comércio (OMS), um em cada cinco habitantes não tem nacionalidade suíça enquanto 50% dos casamentos ocorrem entre suíços e estrangeiros; de toda a população os estrangeiros representam 23%, uma taxa alta. Com o crescimento demográfico de 7,2 para oito milhões de habitantes na última década, o país dos Alpes vem lutando com questões de imigração, recebendo novos habitantes de todo o mundo. A gradual demanda do mercado de trabalho por mão de obra especializada e os acordos bilaterais que a Suíça assinou com a União Europeia em 2002 tem pressionado sobretudo o transporte público, o tráfico rodoviário, o sistema imobiliário com seus preços exorbitantes e a segurança nacional. Trens superlotados (principalmente na ótica do suíço, bem "mal acostumado" com conforto), passageiros viajando em pé e a necessidade de segurança no turno da noite são sinais visíveis de que o suíço pode estar começando, sim, a pensar em “marcar” o seu lugar.

     A crise do sistema financeiro na Suíça, que acompanha os turbilhões da Europa, parece ter um duplo sentido ali. A vulnerabilidade dos bancos, desempregos e polêmicas em relação à sua política financeira revela paradoxalmente a força e a neutralidade helvética. Comparada a outras economias, sua estabilidade bem preservada pode ser “sentida” na inexistência de sinais de inflação: ou seja, o que custava cinco francos continua hoje sendo o mesmo preço. A caça aos paraísos fiscais – uma campanha atual de muito paises mergulhados em crise como os EUA por exemplo – pode ter o intuito de acabar com os “segredos” da comunidade de sete ministros.  Mas talvez a tarefa não seja tão fácil, assim como na Segunda Guerra, onde o país montanhoso foi o único a nao ser dominado pelo ditador da Alemanha. Tamanho realmente não é documento: a área do pequeno país ultrapassa pouco mais de 41 mil quilômetros quadrados. 

   Curioso é que o dia nacional da Suíça é diferente de muitos outros atribuídos a revoltas, independência e união, que determinam as datas importantes de um país. Neutralidade comprovada, não houve na ocasião marcas de sangue nem mesmo discussão. Em 1 de Agosto de 1291, apenas iniciou-se a Confederação Helvética (nome em latim) a partir de um documento encontrado que unia o país em três vales no centro do território – Waldstätte – esquecidos por duques e reis. Há ainda a lenda nacional que indica o herói Guilherme Tell (encontrado nas moedas de cinco francos) como fundador do país. Passados séculos e décadas, hoje são vários povos que formam o país conhecido pela perfeição dos canivetes. O nativo, por sua vez, talvez continue modesto, sem se importar com hino nacional e outros signos patriotas, mas certamente em meio a tantas línguas ouvidas tenha chegado a hora de “vestir a camisa” vermelha e branca. Aceitar o que vem de fora, sem esquecer de enaltecer sua cultura, próprios valores e tradição: o desafio suíço também é multicultural.








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