sexta-feira, 18 de maio de 2012

MIXOPINIÃO BRASIL: Turismo e vida aqui são só pra "quem pode"


     Chegando no Brasil, após quase meio ano sem visitar, senti a felicidade de estar no meu país, ver tanta gente simples e bonita pelas ruas, bater papo “com intimidade” até com estranhos, ouvir e falar nossa língua. Tenho que admitir, sentir o povo e o calor do Brasil é demais, indescritível! E só compreende isso quem está fora, não adianta. Em qualquer canto do mundo que estamos e alguém nos descobre como brasileiros, é impressionante a empolgação do estrangeiro ao falar com a gente. “Brasil é isso, Brasil é aquilo”; é um elogio atrás do outro. É uma pena que a oportunidade de visitá-lo não é para qualquer um. Prestes a sediar os jogos olímpicos e a Copa do Mundo, o Brasil está em alta e vem trazendo de carona para as alturas sua economia, moda, gastronomia e, (infelizmente) a descontrolada inflação.
     Além do próprio brasileiro, quem mais sabe disso são as delegações internacionais de Comitê Olímpico, que recentemente precisaram cutucar o Palácio do Planalto, questionando os impagáveis preços das diárias na cidade do Rio de Janeiro. Muitas delas quase desistiram de enviar membros de suas delegações à Rio +20 – Confederação das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. A média das diárias (em quartos comuns) nos hotéis estava sendo cotada a quase 400 dólares (mais ou menos R$800,00). Ou seja, absurdo. Só para ter uma idéia, em Londres (uma das mais caras cidades da Europa) a diária seria pouco mais de 500 dólares nos Jogos Olímpicos. Dá para imaginar o Brasil no mesmo evento e na Copa?
     O que mais chama atenção nessa idéia é a forma como o Brasil está projetando muito erroneamente sua evidência. A impressão que se tem é de que isso nunca vai dar certo. Beneficiada pelas crises de outros países, ao invés de atrair o turismo, está o assustando. Até para quem ganha em outra moeda mais forte, a verdade é que o país está quase impagável. Com problemas sociais urgentes a serem resolvidos (de preferência antes de chegarem do exterior os esperados “torcedores”), o país se encontra em risco constante de desvalorização da moeda, cobrando muito caro por coisas que poderia produzir e vender muito barato e vendendo mais caro ainda o turismo e a vida no Brasil. A sorte é que todo mundo AMA isso aqui.
     Quem viaja para fora sabe a diferença de preço dos mesmos produtos encontrados aqui. Tudo bem que os importados tem taxas de importação, mas é inacreditável como os preços podem ser simplesmente cinco vezes mais em real do que em dólar ou em euro. Um vinho da Califórnia, por exemplo, que se compra por 12 dólares (cerca de 24 reais) no Caribe (que também paga, nesse caso, para importar), aqui pode custar até 69 reais. Eletrônicos, vestuário, artigos de decoração, enfim, tudo é bem mais barato no exterior. A caristia do consumo e de serviços no Brasil está superando até cidades caríssimas como Nova Iorque, onde o preço da gasolina já esteve até 70% mais barato do que nos postos brasileiros, tão caros como os de um país desenvolvido como a Noruega. Tem sentido?
     Em termos técnicos, a inflação voltou a disparar em abril passado, alcançando 0,64%, o maior nível em um ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Má notícia para as autoridades da política monetária, cujo objetivo este ano seria levar a inflação ao centro da meta oficial de 4,5%. Só para ilustrar, uma polêmica nas redes sociais em dezembro passado mostrou como está ficando ridícula a situação dos preços no nosso país. Muitos se revoltaram ao ler que seria mais barato viajar para os EUA, incluindo diárias, e adquirir um Iphone lá do que comprá-lo aqui. Não sei, mas será que isso é possível? Só me pergunto como um povo que ganha no mínimo R$2,83 por hora e R$622 ao mês vai conseguir viver com o mínimo de cidadania e educação num país onde nem o estrangeiro está achando o preço justo.



PS. Tomei um susto ao buscar cursos de Fotografia no Rio de Janeiro, e uma escola ter me informado que só teria aulas particulares para estrangeiros. Como assim, um curso (que não é de idiomas) no Brasil, eu sendo brasileira e com interesse, e a disponibilidade somente para “gringos”? Perguntei o porquê da tal política “favorável”, afinal se as aulas fossem em inglês ou o preço em dólar não seria problema pra mim. Sem graça, a secretária desconversou e disse que seriam aulas “sazonais”. Só que entendi no fim que o preço deve ser tão alto que eles nem tem coragem de falar para brasileiros. E o problema se agrava quando eles pensam que o estrangeiro não percebe isso, que paga "sem sentir"...Pra quem pensa que “gringo” não sabe nada deveria se lembrar de que o brasileiro pode não ser tão esperto assim...

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