quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

MIXOPINIÃO Facebook: "depois de 750 milhões de pessoas, resolvi entrar"

      Já perdi as contas de quantas vezes precisei responder, quase encabulada, "vivo em outro planeta". Tanto na Suíça, quanto nas Bahamas - e principalmente no Brasil - quem ainda não resistiu aos encantos da maior rede de relacionamentos do mundo deve entender a minha resposta nas inúmeras vezes que tentei "quebrar o gelo" e disfarçar o assunto num grupo, em que de certa forma estava excluída. Sim, porque não fazer parte hoje do Facebook é quase que estar fora da vida social. Ou até mais que isso: é não parecer legal, não ter "amigos", estar fora de moda e optar por um tal de ostracismo mais por fora ainda.
    Totalmente "out". Foi assim que me senti, enquanto resistia e recebia aos poucos mensagens de uma certa hipnose pela rede, bem similar àquelas de propaganda "compre, compre, você precisa, você tem que me comprar". Segundo meus princípios, não tinha porquê aderir a idéia, afinal tenho contato com todos os meus amigos, não estaria "precisando" encontrar outros mais, nem estaria à vontade de mostrar minha vida a todos. Acontece que fui levada a repensar. Andei percebendo que até emails alguns amigos já não respondiam mais, e quando os reencontrava e perguntava o motivo do sumiço, rapidamente precisava usar minha resposta-chave: "você tem facebook?". Moral da história: email nesse caso já estaria quase ultrapassado, em desuso. Impressionante.
    Mais interessante ainda é a velocidade em que a rede social se alastrou pelo mundo. De 2004 para cá, o website de Marc Zuckerberg já alcançou a marca de 750 milhões de usuários, sendo o site mais acessado do mundo (com mais de 65 bilhões de visualizações mensais). O fenômeno mudou toda a forma de comunicação, tanto pessoal quanto no sentido de comunidade. A tecnologia evoluiu demais. Como consequência, concedeu às redes - nesse caso ao "facebook" - um poder inimaginável de manipulação. E isso é o que sempre tive o maior receio e respeito. Afinal, os robôs do Facebook são capazes de tudo: editar, ignorar, deletar, além do pior na minha opinião, rastrear você.
     Mas tudo bem, isso não é o maior medo do homem moderno. Ficar sozinho talvez seja maior que isso. É compreensível como um membro passa em média 750 minutos por mês curtindo a rede. A verdade é que é gostoso e viciante o "negócio". Tenho que admitir: estou a-man-do o facebook e adorando reencontrar pessoas que fizeram e fazem parte da minha vida, curtir a velocidade da informação e "bisbilhotar" a vida alheia de vez em quando. Rapidamente eu, como qualquer pessoa, vou chegando perto da média de amigos (são 135 por pessoa)...quantos amigos, não?!
    A verdade é que a comunicação moderna - rápida e superficial - cabe perfeitamente em nosso mundo. Hoje, com mais de 7 bilhões de pessoas no globo, poucas pessoas lamentavelmente querem ou tem tempo para se relacionar de verdade.  Passeios, fotos bacanas, viagens, pensamentos em um click: o facebook para muitos é como um showtime sem fim. E parece estar exatamente aí a chave do sucesso. Legal, divertido, fácil, mas baseado também na "liberdade" do desejo de como cada um quer se ver. E, é claro, como também de ver o outro e se mostrar.

P.S.: E não esqueça: "Like me on Facebook".

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

MIXOPINIÃO: A sorte de cada mulher no mundo

   Outro dia conversando sobre como "é duro" ser mulher, suas funções dentro da sociedade - desde conflitos de maternidade, carreira, casamento àqueles complexos de independência, entre outros - pensei em como a educação influencia o caráter e a personalidade de nós, mulheres. Quando se vê mulheres submissas, desleixadas, caprichosas, fúteis, outras que falam pelos cotovelos, algumas que respondem pelos maridos e também aquelas que nem precisam deles, pode-se até dizer que elas já nasceram assim com tal personalidade. Tudo bem. Mas com certeza algo nelas tem origem nos seus pais assim como também na sociedade.
   Partindo dessa hipótese, como vivem então as pobres mulheres de Cabul, acostumadas a usar meios de transporte como ônibus, onde somente aos homens cabe a prioridade de se sentar? O que deve passar pela cabeça das crianças que convivem com a realidade da violência familiar e testemunham a luta incessante de suas mães para camuflar suas belezas e personalidades na tentativa de viver em paz? Indicado pela revista Newsweek como o segundo pior país do mundo para mulheres, o Afeganistão conta com a maior taxa de mortalidade materna do mundo - sendo que 85% das mulheres dão à luz em pleno século 21 sem sequer assistência médica. Incrível, mas infelizmente realidade.
  Dos dez países indicados na mesma reportagem, a África detém os sete piores para o gênero feminino. Chade é o país que bateu o recorde, onde as "pobres-coitadas" não usufruem de quase direito algum, e ainda são obrigadas ao matrimônio na faixa de 11 anos de idade, dentro daquele padrão de 500 anos atrás - homem "podre" que chega com fome de sexo no tal casamento e a menina "fresquinha" apavorada. Em regiões desse mesmo continente, estatísticas apontam quase 99% de mulheres infectadas pelo vírus HIV. Quando nos damos conta disso, é impressionante como em tantas partes o mundo ainda se revela tão primitivo.
   No Brasil temos sorte. Apesar de conviver com um machismo quase que intrínseco, geralmente as mulheres são lutadoras, tem "sangue quente" e dão conta do recado. Nós, mulheres brasileiras, somos bonitas, temos raça e por todo o mundo somos conhecidas - ainda que às vezes pejorativamente - por esses aspectos. No nosso país, até a posição principal de presidente agora está ocupada por uma mulher. Isso tem um peso, e importa muito, principalmente ao resto do mundo que sempre enxergou nosso país como o paraíso dos machos. Vamos pra frente.
   "Aproveitando a deixa", não vou deixar de relatar minha opinião sobre o que é ser mulher na Suíça - que aliás ficou em sexto lugar na tal pesquisa como um ótimo país à classe. Ainda que tenham conquistado tardiamente o direito de votar (1971) e recentemente (2005) a licença-maternidade, as mulheres suíças conquistam cada vez mais espaço na vida política do país: dos sete ministros do governo federal atualmente, por exemplo, quatro são do sexo feminino. No país helvético, a mulher tem seu lugar, e esse lugar é alto. Como mulher, posso dizer que sempre me senti muito livre na Suíça. Lá podia estacionar, dirigir, pegar ônibus, ir de trem, caminhar sozinha, chegar tarde em casa, tudo isso sem medo. Na Suíça ainda existe o precioso e raro direito de ir e vir. Pena que nem todo lugar tem essa sorte. :O

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

MIXOPINIÃO: "Nine eleven"

O dia que marcou o mundo virou até "desculpa"

   Não é por questão de crítica ao país dos outros não, sou baiana e conheço muito bem como o serviço brasileiro às vezes "cansa nossa beleza". Mas o que aconteceu aqui em Bahamas na semana passada eu vou ter que registrar. Encomendei uma cortina, que custava 49 dólares no site Amazon dos EUA; com o transporte de Miami para Nassau, a mesma passou a custar três vezes mais: serviço de shipping, despachante, imposto. OK. Mas o pior não foi isso, e sim a demora. Passei mais de sete horas para ter a mercadoria nas mãos. Isso porque não foi uma empresa qualquer não, de beira de porto. A empresa onde nunca mais pago um centavo é a Tropical Shipping - "líder de envio por via marítima para as Bahamas e o Caribe por mais de 45 anos", segundo próprio slogan da companhia.
   Quase não pude acreditar como um serviço poderia ser tão primitivo nos dias de hoje, e olhe que estou acostumada com o Brasil - que muita gente classifica como "país de terceiro mundo" mas não é. As horas que desperdicei com a experiência só valeram para me ensinar a definição de "broker"  em inglês. Afinal não entendi a profissão de um senhor negro de idade que parecia beirar aos 90 anos, "caindo em pé", cheirando (para não maldizer "fedendo") a rum, fazendo mais de mil cálculos em vários papéis, com carbono, consultando num livro pesado e antigo (grosso que nem o Antigo Testamento) sobre os impostos. Eu, impacientemente esperando (e olhe que só tinha uma pessoa na minha frente!), fiquei curiosa sobre o que ele estava fazendo e tive que perguntar a recepcionista. "Desculpa, mas qual é a profissão dele?"
   Definida no dicionário como "agente", "corretor", a palavra broker cai bem para um tipo de despachante, que no caso (tirando parte da culpa da empresa citada) as Bahamas necessitam para calcular a taxa de imposto de produtos que entram no país. Mesmo depois de várias palavras que ele dirigiu a mim, explicando por que tinha cobrado 30% da minha cortina (que era tecido, que se fosse acrílico ou metal seria mais etc), não consegui entender o cálculo que ele fez e saí meio pirada. "Que p. é essa?" pensei, afinal não poderia levar minha encomenda logo, teria que pagar ali uma taxa e depois o imposto lá na casa da pqp (me desculpem os termos). Fala sério!
   Fui perguntar ao dito cujo - um branco - que tinha me atendido ao lado no balcão da Tropical, ele, covarde, ao invés de tirar minhas dúvidas, respondeu "senhora, ele é do governo, trabalha aqui, e todas as contas que faz são corretas, é isso mesmo". Melhor dizendo, falou que o problema era meu. Pois bem, minha dúvida era onde pagar a parte do governo da Bahamas. Ele me explicou - o broker também já o tinha feito - e eu não sabia onde era. Pedi o endereço. Ah, não tinha o endereço, claro! Achei que estavam brincando. Um segundo depois, quando paguei a parte da empresa, quem estava ao meu lado, perguntando meio grosseiro "A senhora entendeu agora?" Respondi que sim; daí o broker me disse que então eu lhe devia 20 dólares pelos "papéis". Tive vontade de brigar, mas já estava sem nervos, dei a ele o dinheiro.
   A parte mais tranquila foi pagar o imposto do país. Depois de rodar uma longa avenida, e me enrolar toda, consegui chegar no Departamento da Alfândega. Passei lá uns 20 minutos e paguei o tal do imposto. Aliviada no dia seguinte, praticamente abri a Tropical Shipping, cheguei às 8h da manhã, achando que ia ser rápido. Ledo engano. Encaminharam o meu carro para a zona onde ficam os cargos, onde precisei deixar minha identidade. Cheguei e um monte de homem sem o que fazer ficou me olhando sem dizer nada. Eu meio que gritei, "bom diaaaaa", onde é o escritório?". Passei e esperei em uns três escritórios, até que tudo fosse carimbado, confirmado e etc.
   No último, um homem me perguntou o que era. Depois se era pesado e como era a embalagem. Respondi, "se vocês que trouxeram, não sabem, quem dirá eu!" Só me faltava ter que ir procurar  sozinha  - ou pior, com um deles - naquele galpão o meu pacote...Passou uma meia hora (já eram quase 10h da manhã), ele trouxe minha cortina e disse que tinha que carimbar e olhar meu carro. E que além disso, eu teria que deixar na saída tal papel. Não acreditei. Daí perguntei, p. da vida: por que isso é tão complicado? Irônico - e sério - ele me respondeu. "Nine eleven. After that, ma'am everything is crazy!!!" Dá para acreditar?????


PS: A encomenda saiu no fim por quase 210 dólares (ou seja, mais de 300 reais). 57 Amazon (junto com entrega) + 90 da Tropical Shipping + 20 Despachante + 50 Imposto. Melhor nem me perguntar se gostei da cortina...


Em inglês:
"Nine eleven" - Onze de setembro

"After that, everything is crazy, ma'am" - Depois disso, tudo é louco, senhora!
"Broker" - corretor, agente

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

MIXNOTÍCIA: Os rastros do furacão Irene nas Bahamas


    Com uma força imbatível de arrancar árvores e tetos, o poder de impacto do furacão Irene teve seu ápice no arquipélago das Bahamas na madrugada de quinta-feira, 25 de agosto. Com ventos a 185 kph, deixou rastros de destruição principalmente nas pequenas ilhas ao redor da capital como Eleuthera, Cat Islands, Acklins e Crooked Islands. Na ilha de Mayaguana foram destruídas pelo menos 40 casas no povoado conhecido como Lovely Bay. Já a capital Nassau foi menos prejudicada já que recebeu ventos devastadores porém relativamente amenizados pelas menores ilhas. O Mar do Caribe - famoso pelas suas águas paradas - passou dois dias de muita agitação, registrando fortes ondas. Temido por chegar às ilhas com categoria 4, o primeiro furacão da temporada foi marcado por muita chuva, barulho e um poder alucinante.
Em Nassau muitas árvores não resistiram


Em Paradise Island até o semáforo saiu do lugar


      "Just pray man!". Assim o síndico do meu condomínio resumiu a expectativa de receber em nossas casas a passagem do furacão, que ameaçava intensificar-se para categoria quatro (ventos acima de 210 kph) e consequentemente poderia destruir de forma contundente o país. Graças a janelas à prova de furacões, minha casa ficou no lugar, perdendo só algumas partes do teto do lado de fora. A noite foi longa, sobretudo pelos ruídos que atrapalharam o sono e intensificaram o medo de esperar tudo passar. Os estrondos da força da natureza foram tão impressionantes que às 6h da manhã  - quando parecia estar tudo muito pior - não consegui olhar para janela. O jeito foi só rezar mesmo...e finalmente acordar com a notícia de que o olho do Irene já estava longe. Do meu condomínio deu para ver praticamente todos os momentos. No fim até conseguiu-se entender a logística do furacão, quando o mesmo já tinha "dado a volta" e seus ventos começaram a mudar de direção.

 

 
Manhã de 25.08: quando o Irene já estava mais calmo


 
A parada Cabagge Beach ficou agitada com o Irene



Depois da tempestade, a calmaria do pôr-do-sol colorido em Nassau
    
"Just pray man!" - em português, "Então reze, cara!"

terça-feira, 23 de agosto de 2011

MIXALERTA: "Start to get prepared NOW! The Hurricane Irene is coming!"

   Parece até brincadeira, mas é assim que Nassau, a capital das Bahamas se encontra: em alerta! Um dia antes de ser atingida pelo furacão Irene, as portas do comércio já estiveram praticamente "lacradas" com madeiras para proteger os vidros. Os grandes e seguros hotéis, sem reservas; nenhum quarto mais esteve disponível para abrigar quem estava fugindo do medo de amanhã. Muitos barcos já se encontraram estacionados fora dos portos. Nos mercados faltou até banana nas prateleiras, entre outros alimentos fáceis para suprir prováveis dias difíceis. A cidade viveu hoje um ritmo diferente, estranho. Os únicos que pareciam sossegados eram os bahamenses - sem exceção, todos questionados onde iriam "esperar" a tal visita, disseram que em casa mesmo, no problem. Afinal as Bahamas já estão acostumadas com o evento apesar das alertas nas tvs, principalmente americanas: "Comecem a se preparar AGORA, o furacão Irene está chegando!"
    Eu, como estrangeira e inexperiente em temas de furacões, fiquei com medo. Assistindo tv e percebendo as proporções do Irene, fiquei balançada. Nessa situação de iminente emergência qualquer coração dispara quando se escuta as dicas de preparação para a chegada dos ventos a mais de 100 km por hora. Encher o tanque de gasolina, comprar velas, muita água e comida, além de variados números de telefone de emergência, repórteres falando de intensificações - "da categoria 3 o Irene poderia chegar a 4" - todos os amigos ligando para saber para onde ir. Pode parecer drama, mas tudo isso me tirou do sério; minha ficha foi realmente caindo durante o dia, ainda mais quando perdi com meu marido o último vôo possível para escapar pras Ilhas Cayman. 
    A partir de então comecei realmente a me preparar, afinal eu sou uma dos locais que vão ficar na ilha. Com fé em Deus e janelas hurricaneproof, não haverá problema, mas é claro que tenho na imaginação cenas de pânico e  aterrorizantes barulhos que poderiam rolar de verdade e, diga-se de passagem, não seriam nada engraçados...A força da natureza, ventos radicais puxando tetos, carros, decks e árvores voando, coisas de filme, enfim, deixa isso pra lá...Melhor falar de estatísticas. O furacão Irene se formou na verdade pela primeira vez no Atlântico em 2005, com categoria 2 (o máximo da escala Saffir-Simpson é 5), sem deixar rastros de destruição.


    A diferença dos seis anos de sua aparição é que desta vez o Irene está atingindo países. Considerado pelo Centro Nacional de Furacões dos EUA como uma "tempestade muito grande", o Irene  já passou pelo Haiti, Porto Rico, República Dominicana, está prevista para atingir toda as ilhas Bahamas e ameaça alcançar no fim de semana toda a costa leste americana, como por exemplo, os estados Flórida, Carolinas do Norte e Sul. Ter consciência de seus ventos de 160 Km/h, que eles chegam em menos de 24 horas e podem se fortalecer ou não, essa é a parte mais dura para quem vivencia um furacão.  Nesse momento só peço a Deus que o olho do Irene não nos enxergue. Como dizia minha vó, "agora durma com uma zoada dessas".

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

MIXOPINIÃO Brasil: o que falta para esse país ser feliz?

   A gente que é brasileiro sabe. O orgulho é nossa bandeira. A gente adora o Brasil, seus jeitos e cores, mesmo que reclame das mil e uma coisas erradas nele. A gente ama nossa música; sambinha, axé, música popular brasileira. Qualquer que seja ela, combina com uma boa festa. Nossa Tv a gente nem comenta. Qual outro país tem uma rede tão produtiva e poderosa como a Globo? E onde se encontram mais caras e corpos maravilhosos do que nas nossas bem exportadas novelinhas? A moda brasileira por sua vez já é uma das campeãs em criatividade e beleza tanto nas passarelas internacionais quanto nos preços supervalorizados. Já dizia o Pero Vaz de Caminha em 1500, "aqui se plantando tudo dá". Abundante em petróleo, açúcar, café, soja entre outras variadas matérias-primas, o Brasil tem das mais doces frutas às mais lindas praias. O que falta então para esse país ser feliz?
   Na verdade parece que não falta algo, mas sobra nesse país. O Brasil desperdiça 30% de todos os alimentos que produz, o que seria ideal para alimentar por ano 30 milhões de pessoas, ou seja, oito milhões de famílias brasileiras. Na área de emprego, os índices são os mais otimistas desde 2002: não falta trabalho, mas sobra por justamente faltar mão-de-obra qualificada. Faltam nas escolas professores; nos planos do governo, educação. Falta transporte público, planejamento viário. Sobram tantas filas, faltam tantas vagas em hospitais. Na verdade, as pessoas sentem a falta daquele metrô que estava previsto para inaugurar há anos e cujas obras continuam paradas. E não adianta falar que para tudo isso faltou dinheiro; aliás dinheiro é o que neste país tem de sobra.
   Tanto tem de sobra que cada ministério, seja ele qual for, Turismo, Transportes, Energia, cada um pode tirar do orçamento quase "imperceptíveis" cifras relativas a ilhas, jatinhos, prédios luxuosos e contas fantasmas inacreditáveis. No fim, é óbvio, ninguém faz nada, ninguém sabe de nada, como as famosas vaquinhas da Suíça que andam com as mãos tapando olhos, ouvidos e bocas. No foro privilegiado, onde os políticos são julgados de forma especial e super lenta no Tribunal de Justiça, sobram CPIs (Comissão Parlamentar de Inquérito) a fazer, afinal falta tempo para julgar tanto caso de corrupção. Nossas cadeias são sujas, abandonadas e lotadas, mas isso porque as mesmas se destinam aos cidadãos normais do Brasil, os pobres. Para os políticos que assaltam o país constantemente, é claro que falta lugar. Aliás eles estão mesmo é sobrando.
   Indicado como sétima economia do mundo, o Brasil se encontra hoje em um momento de total evidência internacional. O real está valorizado, assim como o mercado imobiliário e as grandes empresas brasileiras. No momento otimismo e investimento tem de sobra no país. Mas o momento também é propício à decepção e ao fracasso como consequência das grandes expectativas. E para um país de democracia jovem que se encontra em seu ápice, basta apenas um passo curto errado para cometer a grande falta. E sair rolando pelo abismo.
    Na falta de tantos atributos importantes como respeito ao próximo (em extinção quase que global), honestidade e humildade, seria importante redefinir nosso orgulho verde-e-amarelo. Fazer um favor ao invés de só querer ser servido, se olhar no espelho e lembrar que ninguém é tão bom que não precisa cumprimentar o outro, perceber que todos são iguais. Tornar nosso orgulho verdadeiro, que simplesmente rejeita nosso lifestyle de malandro e evolui ao entendimento de que nada se consegue de graça. Quem sabe isso era só o que nos faltava para a gente ser feliz.
   

terça-feira, 14 de junho de 2011

MATÉRIAMIX: As apaixonantes e paradas ilhas Bahamas

      Toda a maravilha que se vê sobre as Bahamas em cartões postais e revistas pelo mundo afora não é efeito fotográfico, realmente existe. A harmonia perfeita de águas azuis-turquesa com peroladas areias brancas e lindos corais localizados a baixas profundidades encanta seus visitantes e também seu povo, "bem" acostumados com um dia bonito de sol atrás do outro. A beleza do mar raso das setecentas ilhas situadas entre o Oceano Atlântico e o Mar do Caribe incitou Cristóvão Colombo a batizar o país em 1942 de Bahamas ("baja mar" em espanhol). Hoje o país que já passou por diversas colonizações, é independente, não exige impostos de seus habitantes e busca sua identidade cultural entre os resquícios de colonização inglesa e o vizinho "american way of life".
      Quem passear por Nassau - capital de Bahamas que abriga pelo menos um terço da população do país - terá a oportunidade de vivenciar não só os deleites turísticos, como as apaixonantes praias e a famosa conch salad (espécie de salada vinagrete com frutos de conchas do mar). Além das estudantes trajando tradicionais uniformes, a mão inglesa - que deixa o trânsito ainda mais complicado na cidade - é um dos indícios de como os bahamianos ainda vivem dentro do rótulo inglês. Aos domingos, saem das igrejas debaixo de um sol escaldante aquelas senhoras negras "chiques no último" de chapéu, roupas, meia-calça, make-up e jóias combinando (diga-se de passagem, os diamantes bahamianos são tax-free). Mais adiante, o guarda de trânsito parece estar vivendo no mundo de séculos atrás: sob a mesma alta sensação térmica, ali está ele de peruca branca como aqueles lordes de pinturas antigas do Renascimento.
      Apesar de serem independentes, as Bahamas são uma monarquia constitucional da Comunidade Britânica, que é uma organização entre alguns países de língua inglesa, cujos membros são administrados pelo rei/rainha do Reino Unido sob ponto de vista de defesa e relações exteriores. Internamente, desde 1973, os bahamianos têm suas próprias regras, e como já denota o pouco tempo de experiência no assunto, o sistema do país reflete suas águas paradas, calmas e tranquilas. Ou seja, tudo acontece em "ritmo de ilha" mesmo: motorista pára no meio de rotatória para conversar, sistema cai sem previsão de volta, supermercado depende de container, "quem tem horas, pra quê?" A ameaça de furacões durante o verão não parece incomodar a população composta de 85% de negros e 15% de brancos (entre eles estrangeiros que adotaram o país). Mas também como abalar? A vida no Caribe é tranquila até demais...
      Concorrência com o estrangeiro eles não têm, afinal este deve chegar na ilha por meio de casamento bahamiano ou compra de visto de residência. Além disso não é permitido o trabalho ao estrangeiro, ao menos que o mesmo (ou sua firma) pague caro pelo visto de trabalho - entre $250 a $7.500 dólares - e comprove que o bahamiano não estaria apto para ocupar tal vaga. Além do inglês, que é a língua oficial, também é falado no país o crioulo bahamiano - mistura de inglês com espanhol e línguas africanas trazidas pelos escravos da África levados ao Caribe. Já as moedas adotadas são o dólar bahamiano e o americano, ambos com mesmo valor de câmbio.
      O turismo é o maior responsável pela receita do conjunto de ilhas. Em  Paradise Island, ilha adjunta a New Providence, está situado o gigantesco complexo de hotéis do país - o Atlantis, do mesmo grupo que ergueu projeto em Dubai com famosas ilhas artificiais em forma de palmeiras. Uma das fortes atrações turísticas de Nassau, o conglomerado emprega cerca de seis mil bahamianos. As pequenas ilhas de Bahamas também constituem famosos destinos românticos de luas-de-mel; eventos inusitados como casamentos debaixo d'água e passeios de integração com tubarões são atividades quase que rotineiras. O segundo lugar da economia ocupa o setor financeiro - que contribui para a existência de inúmeros bancos estrangeiros instalados no país.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

MIXCURIOSIDADE: O povo suíco viaja (Geld sei dank*!)

    Numa entrevista na tv, foi perguntada à bela Miss Suíça 2007, Amanda Ammann, qual era o seu hobby. Determinada, ela prontamente respondeu, "ah como o de todo o suíço, viajar". Aquilo me deixou intrigada. Como assim, o hobby do suíço é viajar? Eu, como boa brasileira, me senti até ofendida, que hobby é esse que o povo helvético tanto desfruta e que a maioria dos países nem pode comentar o assunto? Pois bem, enquanto numa reunião de voluntários nas Bahamas (e com certeza em centenas de outros lugares mais) os agentes sociais se perguntam como explicar às crianças carentes o significado de "hobby" - já que a maioria delas não faz idéia do que deve ser -  os suíços fazem parte da pequena população do mundo que realmente pode viajar. E viaja.
    Quem duvidar da afirmação, que passe uns dias num surfcamp ou numa pousada qualquer pelo mundo. Ali sempre tem, teve ou está para chegar um suíço, um esportista, um mochileiro, alguém que passa por aí descobrindo culturas. É a tal Weltreise, como alguns deles chamam. Viagem ao mundo em alemão. Além de curiosos, eles são aventureiros, inocentes, não têm medo de nada. Naturalmente não pensam em assaltos, nem tiroteios que eventualmente possam acontecer. São livres, desimpedidos, também não têm medo de desemprego. Aliás, a coisa mais comum que se escuta (pelo menos na parte alemã da Suíça), é que alguém se demitiu - de um emprego bacana - para passar um ano ou uma temporada viajando ao mundo. Dinheiro para isso? Sem problemas, eles ganham bastante. Alguns até podem chamar isso de hobby.
    Apesar de muitas vezes eles mesmo não se darem conta do privilégio, o aproximando até a uma mera atividade realizada com frequência, prazerosa, incitada por paixão - definição de hobby segunda Wikipédia - os suíços são, sim, o povo mais estruturado para viajar. O país, por sua vez, detém de um recorde mundial, além de um sistema ferroviário de dar inveja. Campeão com base na distância percorrida de trem por pessoa e por ano, 2103 quilômetros, o país dos relógios reflete sua pontualidade em sua malha ferroviária: para um população que pouco ultrapassa sete milhões de pessoas, a Companhia de Trens da Suíça (SBB) transporta uma quantidade bem mais que razoável de passageiros. Em 1998 foram nada mais nada menos que 322.6 milhões de passageiros por ano. Parece que a miss estava até com a razão.
    No Brasil pela primeira vez foi constatado um aumento de 115% de passageiros de avião (que chegou até a superar o número dos passageiros rodoviários). Em 2010 foram 66 milhões de passageiros que realizaram viagens nacionais nas alturas. Mas isso não quer dizer que o brasileiro passou a  viajar mais. Devido à queda do dólar, ao aumento da renda, à confiabilidade das companhias aéreas brasileiras e ao barateamento das tarifas, os ares brasileiros se tornaram mais movimentados. Tudo bem, o fato é positivo quando se compara à média mundial que demonstra que nem um terço da população pode se dar ao luxo de desfrutar o tráfego aéreo global. A tal fila de embarque e um atraso ou outro que a gente reclama portanto é, sim, luxo de poucos.
    Voltando à história de hobby, o engraçado é que esse negócio é coisa mesmo de gente moderna, gente que tem "condições", pra ser mais precisa. No sul da Bahia, de onde eu venho, por exemplo, perguntar ao pessoal "qual é seu hobby" é quase a mesma coisa que perguntar a distância ou o tempo de um lugar ao outro. Brasileiro não tem idéia de como responder isso; e quando responde, é errado. A verdade é que gente pobre, humilde não tem hobby; eles fazem as coisas sem pensar muito e tentam curtir. Hábitos como tomar uma cafezinho, fazer aquele churrasco, conversar meia hora na porta da "cumadi", ir ao shopping aos domingos deve ser para muitos com certeza no Brasil uma frequente atividade prazerosa. Mas isso com certeza não seria hobby para a ex-miss suíca, é claro. Afinal, Geld sei dank, ela viaja.

*Geld sei dank! quer dizer em alemão graças ao dinheiro, seguindo os moldes de graças a Deus (Gott sei dank!).

quarta-feira, 11 de maio de 2011

MATÉRIACULTI: Globalização e o processo invertido das migrações

    Inerente à história da humanidade desde seus primórdios, o processo de migração conferiu o direito de liberdade ao homem e abriu portas à globalização. Desencadeado por fatores como guerras, colonialismo, escravidão, surgimento de doenças e também pela livre opção dos povos, o deslocamento entre comunidades se alastrou por todo o mundo, favorecendo inicialmente a circulação de bens e capitais e a troca de mercadorias. Com o amadurecimento da globalização, que propiciou a abertura progressiva de economias e a criação de políticas alfandegárias, o protecionismo dos estados e comunidades se evidenciou, limitando assim as migrações e o irrefutável direito do homem de ir e vir.
    Considerando o surgimento das migrações numa época em que inexistiam nem estados, nem nações, nem propriedade privada, a migração constitui  um direito de cidadania. Segundo termos do Artigo 13º da Declaração Universal dos Direitos do Homem, “Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a residência no interior de um Estado”.  Além disso, no n.º2 do mesmo artigo, é referido que: “ Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao país”. Acontece que não é por aí.
    A liberdade do homem globalizado é contudo expressamente limitada. Ao mesmo tempo em que a globalização permite à população menor custo de transporte, maior acessibilidade tecnológica e comunicação global, o homem moderno já não pode se deslocar sem explicar intenções de visita e prazos. Além de inconveniências das migrações ilegais, que torna nos países desenvolvidos mais difícil o governo de suas comunidades e necessidades, outro problema premente da circulação de pessoas é o tráfico humano, que aumenta paralelamente à criminalidade.
    No mundo globalizado, as migrações são marcadas essencialmente por fatores econômicos entre outros. Em país subdesenvolvidos, onde há maiores índices de desemprego e criminalidade, a tendência do cidadão é mudar de país, arriscando "a sorte" na tentativa de melhorias na qualidade de vida. Como efeito e causa, os países desenvolvidos apresentam amplas barreiras à entrada de estrangeiros à procura de residência ou trabalho. As regras restritivas nas políticas migratórias tendem a acompanhar o desenvolvimento sócio-econômico global.
    De acordo com dados do relatório "Globalização, Crescimento e Pobreza" do Banco Mundial, ao mesmo tempo que os países têm promovido a integração dos mercados através da liberalização do comércio e dos investimentos, o mesmo não aconteceu com a liberalização das políticas migratórias. Apesar dessas barreiras, o número de migrantes que vivem em outros países não pára de aumentar. De 1990 a 2005, esse número aumentou de 120 milhões para 191 milhões.