segunda-feira, 16 de maio de 2011

MIXCURIOSIDADE: O povo suíco viaja (Geld sei dank*!)

    Numa entrevista na tv, foi perguntada à bela Miss Suíça 2007, Amanda Ammann, qual era o seu hobby. Determinada, ela prontamente respondeu, "ah como o de todo o suíço, viajar". Aquilo me deixou intrigada. Como assim, o hobby do suíço é viajar? Eu, como boa brasileira, me senti até ofendida, que hobby é esse que o povo helvético tanto desfruta e que a maioria dos países nem pode comentar o assunto? Pois bem, enquanto numa reunião de voluntários nas Bahamas (e com certeza em centenas de outros lugares mais) os agentes sociais se perguntam como explicar às crianças carentes o significado de "hobby" - já que a maioria delas não faz idéia do que deve ser -  os suíços fazem parte da pequena população do mundo que realmente pode viajar. E viaja.
    Quem duvidar da afirmação, que passe uns dias num surfcamp ou numa pousada qualquer pelo mundo. Ali sempre tem, teve ou está para chegar um suíço, um esportista, um mochileiro, alguém que passa por aí descobrindo culturas. É a tal Weltreise, como alguns deles chamam. Viagem ao mundo em alemão. Além de curiosos, eles são aventureiros, inocentes, não têm medo de nada. Naturalmente não pensam em assaltos, nem tiroteios que eventualmente possam acontecer. São livres, desimpedidos, também não têm medo de desemprego. Aliás, a coisa mais comum que se escuta (pelo menos na parte alemã da Suíça), é que alguém se demitiu - de um emprego bacana - para passar um ano ou uma temporada viajando ao mundo. Dinheiro para isso? Sem problemas, eles ganham bastante. Alguns até podem chamar isso de hobby.
    Apesar de muitas vezes eles mesmo não se darem conta do privilégio, o aproximando até a uma mera atividade realizada com frequência, prazerosa, incitada por paixão - definição de hobby segunda Wikipédia - os suíços são, sim, o povo mais estruturado para viajar. O país, por sua vez, detém de um recorde mundial, além de um sistema ferroviário de dar inveja. Campeão com base na distância percorrida de trem por pessoa e por ano, 2103 quilômetros, o país dos relógios reflete sua pontualidade em sua malha ferroviária: para um população que pouco ultrapassa sete milhões de pessoas, a Companhia de Trens da Suíça (SBB) transporta uma quantidade bem mais que razoável de passageiros. Em 1998 foram nada mais nada menos que 322.6 milhões de passageiros por ano. Parece que a miss estava até com a razão.
    No Brasil pela primeira vez foi constatado um aumento de 115% de passageiros de avião (que chegou até a superar o número dos passageiros rodoviários). Em 2010 foram 66 milhões de passageiros que realizaram viagens nacionais nas alturas. Mas isso não quer dizer que o brasileiro passou a  viajar mais. Devido à queda do dólar, ao aumento da renda, à confiabilidade das companhias aéreas brasileiras e ao barateamento das tarifas, os ares brasileiros se tornaram mais movimentados. Tudo bem, o fato é positivo quando se compara à média mundial que demonstra que nem um terço da população pode se dar ao luxo de desfrutar o tráfego aéreo global. A tal fila de embarque e um atraso ou outro que a gente reclama portanto é, sim, luxo de poucos.
    Voltando à história de hobby, o engraçado é que esse negócio é coisa mesmo de gente moderna, gente que tem "condições", pra ser mais precisa. No sul da Bahia, de onde eu venho, por exemplo, perguntar ao pessoal "qual é seu hobby" é quase a mesma coisa que perguntar a distância ou o tempo de um lugar ao outro. Brasileiro não tem idéia de como responder isso; e quando responde, é errado. A verdade é que gente pobre, humilde não tem hobby; eles fazem as coisas sem pensar muito e tentam curtir. Hábitos como tomar uma cafezinho, fazer aquele churrasco, conversar meia hora na porta da "cumadi", ir ao shopping aos domingos deve ser para muitos com certeza no Brasil uma frequente atividade prazerosa. Mas isso com certeza não seria hobby para a ex-miss suíca, é claro. Afinal, Geld sei dank, ela viaja.

*Geld sei dank! quer dizer em alemão graças ao dinheiro, seguindo os moldes de graças a Deus (Gott sei dank!).

quarta-feira, 11 de maio de 2011

MATÉRIACULTI: Globalização e o processo invertido das migrações

    Inerente à história da humanidade desde seus primórdios, o processo de migração conferiu o direito de liberdade ao homem e abriu portas à globalização. Desencadeado por fatores como guerras, colonialismo, escravidão, surgimento de doenças e também pela livre opção dos povos, o deslocamento entre comunidades se alastrou por todo o mundo, favorecendo inicialmente a circulação de bens e capitais e a troca de mercadorias. Com o amadurecimento da globalização, que propiciou a abertura progressiva de economias e a criação de políticas alfandegárias, o protecionismo dos estados e comunidades se evidenciou, limitando assim as migrações e o irrefutável direito do homem de ir e vir.
    Considerando o surgimento das migrações numa época em que inexistiam nem estados, nem nações, nem propriedade privada, a migração constitui  um direito de cidadania. Segundo termos do Artigo 13º da Declaração Universal dos Direitos do Homem, “Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a residência no interior de um Estado”.  Além disso, no n.º2 do mesmo artigo, é referido que: “ Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao país”. Acontece que não é por aí.
    A liberdade do homem globalizado é contudo expressamente limitada. Ao mesmo tempo em que a globalização permite à população menor custo de transporte, maior acessibilidade tecnológica e comunicação global, o homem moderno já não pode se deslocar sem explicar intenções de visita e prazos. Além de inconveniências das migrações ilegais, que torna nos países desenvolvidos mais difícil o governo de suas comunidades e necessidades, outro problema premente da circulação de pessoas é o tráfico humano, que aumenta paralelamente à criminalidade.
    No mundo globalizado, as migrações são marcadas essencialmente por fatores econômicos entre outros. Em país subdesenvolvidos, onde há maiores índices de desemprego e criminalidade, a tendência do cidadão é mudar de país, arriscando "a sorte" na tentativa de melhorias na qualidade de vida. Como efeito e causa, os países desenvolvidos apresentam amplas barreiras à entrada de estrangeiros à procura de residência ou trabalho. As regras restritivas nas políticas migratórias tendem a acompanhar o desenvolvimento sócio-econômico global.
    De acordo com dados do relatório "Globalização, Crescimento e Pobreza" do Banco Mundial, ao mesmo tempo que os países têm promovido a integração dos mercados através da liberalização do comércio e dos investimentos, o mesmo não aconteceu com a liberalização das políticas migratórias. Apesar dessas barreiras, o número de migrantes que vivem em outros países não pára de aumentar. De 1990 a 2005, esse número aumentou de 120 milhões para 191 milhões.