quinta-feira, 8 de setembro de 2011

MIXOPINIÃO: "Nine eleven"

O dia que marcou o mundo virou até "desculpa"

   Não é por questão de crítica ao país dos outros não, sou baiana e conheço muito bem como o serviço brasileiro às vezes "cansa nossa beleza". Mas o que aconteceu aqui em Bahamas na semana passada eu vou ter que registrar. Encomendei uma cortina, que custava 49 dólares no site Amazon dos EUA; com o transporte de Miami para Nassau, a mesma passou a custar três vezes mais: serviço de shipping, despachante, imposto. OK. Mas o pior não foi isso, e sim a demora. Passei mais de sete horas para ter a mercadoria nas mãos. Isso porque não foi uma empresa qualquer não, de beira de porto. A empresa onde nunca mais pago um centavo é a Tropical Shipping - "líder de envio por via marítima para as Bahamas e o Caribe por mais de 45 anos", segundo próprio slogan da companhia.
   Quase não pude acreditar como um serviço poderia ser tão primitivo nos dias de hoje, e olhe que estou acostumada com o Brasil - que muita gente classifica como "país de terceiro mundo" mas não é. As horas que desperdicei com a experiência só valeram para me ensinar a definição de "broker"  em inglês. Afinal não entendi a profissão de um senhor negro de idade que parecia beirar aos 90 anos, "caindo em pé", cheirando (para não maldizer "fedendo") a rum, fazendo mais de mil cálculos em vários papéis, com carbono, consultando num livro pesado e antigo (grosso que nem o Antigo Testamento) sobre os impostos. Eu, impacientemente esperando (e olhe que só tinha uma pessoa na minha frente!), fiquei curiosa sobre o que ele estava fazendo e tive que perguntar a recepcionista. "Desculpa, mas qual é a profissão dele?"
   Definida no dicionário como "agente", "corretor", a palavra broker cai bem para um tipo de despachante, que no caso (tirando parte da culpa da empresa citada) as Bahamas necessitam para calcular a taxa de imposto de produtos que entram no país. Mesmo depois de várias palavras que ele dirigiu a mim, explicando por que tinha cobrado 30% da minha cortina (que era tecido, que se fosse acrílico ou metal seria mais etc), não consegui entender o cálculo que ele fez e saí meio pirada. "Que p. é essa?" pensei, afinal não poderia levar minha encomenda logo, teria que pagar ali uma taxa e depois o imposto lá na casa da pqp (me desculpem os termos). Fala sério!
   Fui perguntar ao dito cujo - um branco - que tinha me atendido ao lado no balcão da Tropical, ele, covarde, ao invés de tirar minhas dúvidas, respondeu "senhora, ele é do governo, trabalha aqui, e todas as contas que faz são corretas, é isso mesmo". Melhor dizendo, falou que o problema era meu. Pois bem, minha dúvida era onde pagar a parte do governo da Bahamas. Ele me explicou - o broker também já o tinha feito - e eu não sabia onde era. Pedi o endereço. Ah, não tinha o endereço, claro! Achei que estavam brincando. Um segundo depois, quando paguei a parte da empresa, quem estava ao meu lado, perguntando meio grosseiro "A senhora entendeu agora?" Respondi que sim; daí o broker me disse que então eu lhe devia 20 dólares pelos "papéis". Tive vontade de brigar, mas já estava sem nervos, dei a ele o dinheiro.
   A parte mais tranquila foi pagar o imposto do país. Depois de rodar uma longa avenida, e me enrolar toda, consegui chegar no Departamento da Alfândega. Passei lá uns 20 minutos e paguei o tal do imposto. Aliviada no dia seguinte, praticamente abri a Tropical Shipping, cheguei às 8h da manhã, achando que ia ser rápido. Ledo engano. Encaminharam o meu carro para a zona onde ficam os cargos, onde precisei deixar minha identidade. Cheguei e um monte de homem sem o que fazer ficou me olhando sem dizer nada. Eu meio que gritei, "bom diaaaaa", onde é o escritório?". Passei e esperei em uns três escritórios, até que tudo fosse carimbado, confirmado e etc.
   No último, um homem me perguntou o que era. Depois se era pesado e como era a embalagem. Respondi, "se vocês que trouxeram, não sabem, quem dirá eu!" Só me faltava ter que ir procurar  sozinha  - ou pior, com um deles - naquele galpão o meu pacote...Passou uma meia hora (já eram quase 10h da manhã), ele trouxe minha cortina e disse que tinha que carimbar e olhar meu carro. E que além disso, eu teria que deixar na saída tal papel. Não acreditei. Daí perguntei, p. da vida: por que isso é tão complicado? Irônico - e sério - ele me respondeu. "Nine eleven. After that, ma'am everything is crazy!!!" Dá para acreditar?????


PS: A encomenda saiu no fim por quase 210 dólares (ou seja, mais de 300 reais). 57 Amazon (junto com entrega) + 90 da Tropical Shipping + 20 Despachante + 50 Imposto. Melhor nem me perguntar se gostei da cortina...


Em inglês:
"Nine eleven" - Onze de setembro

"After that, everything is crazy, ma'am" - Depois disso, tudo é louco, senhora!
"Broker" - corretor, agente