Chegando no Brasil, após quase
meio ano sem visitar, senti a felicidade de estar no meu país, ver tanta gente
simples e bonita pelas ruas, bater papo “com intimidade” até com estranhos,
ouvir e falar nossa língua. Tenho que admitir, sentir o povo e o calor do Brasil
é demais, indescritível! E só compreende isso quem está fora, não adianta. Em
qualquer canto do mundo que estamos e alguém nos descobre como brasileiros, é
impressionante a empolgação do estrangeiro ao falar com a gente. “Brasil é
isso, Brasil é aquilo”; é um elogio atrás do outro. É uma pena que a
oportunidade de visitá-lo não é para qualquer um. Prestes a sediar os jogos
olímpicos e a Copa do Mundo, o Brasil está em alta e vem trazendo de carona
para as alturas sua economia, moda, gastronomia e, (infelizmente) a
descontrolada inflação.
Além do próprio brasileiro, quem
mais sabe disso são as delegações internacionais de Comitê Olímpico, que recentemente
precisaram cutucar o Palácio do Planalto, questionando os impagáveis preços das
diárias na cidade do Rio de Janeiro. Muitas delas quase desistiram de enviar
membros de suas delegações à Rio +20 – Confederação das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável. A média das diárias (em quartos comuns) nos hotéis
estava sendo cotada a quase 400 dólares (mais ou menos R$800,00). Ou seja,
absurdo. Só para ter uma idéia, em Londres (uma das mais caras cidades da
Europa) a diária seria pouco mais de 500 dólares nos Jogos Olímpicos. Dá para
imaginar o Brasil no mesmo evento e na Copa?
O que mais chama atenção nessa
idéia é a forma como o Brasil está projetando muito erroneamente sua evidência.
A impressão que se tem é de que isso nunca vai dar certo. Beneficiada pelas
crises de outros países, ao invés de atrair o turismo, está o assustando. Até
para quem ganha em outra moeda mais forte, a verdade é que o país está quase
impagável. Com problemas sociais urgentes a serem resolvidos (de preferência
antes de chegarem do exterior os esperados “torcedores”), o país se encontra em
risco constante de desvalorização da moeda, cobrando muito caro por coisas que
poderia produzir e vender muito barato e vendendo mais caro ainda o turismo e a
vida no Brasil. A sorte é que todo mundo AMA isso aqui.
Quem viaja para fora sabe a
diferença de preço dos mesmos produtos encontrados aqui. Tudo bem que os
importados tem taxas de importação, mas é inacreditável como os preços podem
ser simplesmente cinco vezes mais em real do que em dólar ou em euro. Um vinho
da Califórnia, por exemplo, que se compra por 12 dólares (cerca de 24 reais) no
Caribe (que também paga, nesse caso, para importar), aqui pode custar até 69
reais. Eletrônicos, vestuário, artigos de decoração, enfim, tudo é bem mais
barato no exterior. A caristia do consumo e de serviços no Brasil está
superando até cidades caríssimas como Nova Iorque, onde o preço da gasolina já
esteve até 70% mais barato do que nos postos brasileiros, tão caros como os de um
país desenvolvido como a Noruega. Tem sentido?
Em termos técnicos, a inflação
voltou a disparar em abril passado, alcançando 0,64%, o maior nível em um ano,
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Má notícia
para as autoridades da política monetária, cujo objetivo este ano seria levar a
inflação ao centro da meta oficial de 4,5%. Só para ilustrar, uma polêmica nas
redes sociais em dezembro passado mostrou como está ficando ridícula a situação
dos preços no nosso país. Muitos se revoltaram ao ler que seria mais barato
viajar para os EUA, incluindo diárias, e adquirir um Iphone lá do que comprá-lo
aqui. Não sei, mas será que isso é possível? Só me pergunto como um povo que
ganha no mínimo R$2,83 por hora e R$622 ao mês vai conseguir viver com o mínimo
de cidadania e educação num país onde nem o estrangeiro está achando o preço
justo.
PS. Tomei um susto ao buscar cursos de Fotografia no Rio de Janeiro, e uma escola ter me informado que só teria aulas particulares para estrangeiros. Como assim, um curso (que não é de idiomas) no Brasil, eu sendo brasileira e com interesse, e a disponibilidade somente para “gringos”? Perguntei o porquê da tal política “favorável”, afinal se as aulas fossem em inglês ou o preço em dólar não seria problema pra mim. Sem graça, a secretária desconversou e disse que seriam aulas “sazonais”. Só que entendi no fim que o preço deve ser tão alto que eles nem tem coragem de falar para brasileiros. E o problema se agrava quando eles pensam que o estrangeiro não percebe isso, que paga "sem sentir"...Pra quem pensa que “gringo” não sabe nada deveria se lembrar de que o brasileiro pode não ser tão esperto assim...